Um grupo de mineiros que se depara com uma criatura que vive nas profundezas da terra.

Um grupo de mineiros que se depara com uma criatura que vive nas profundezas da terra.

O Grito Silencioso das Profundezas: Mineradores Revelam O Que Vive Sob a Serra

O pó branco teimosamente se agarra às sobrancelhas suadas de Seu Zé. Há trinta anos, ele desce nas entranhas de Ouro Preto, a cada amanhecer, com a esperança de encontrar o brilho fugidio do ouro e, com ele, o sustento para sua família. A rotina é árdua: o barulho ensurdecedor das brocas, o cheiro acre de dinamite no ar úmido, o suor que escorre em rios pela pele marcada pelo sol – ou pela falta dele, lá embaixo. Mas nada disso o preparou para o que encontraram na última terça-feira, a três quilômetros de profundidade, onde a luz do sol é apenas uma lenda.

“A gente tava abrindo um novo filão, bem escuro, sabe? Aqueles que parece que o diabo fez pra gente se perder”, conta João, o mais novo da equipe, com os olhos ainda arregalados de um espanto que beira o medo. “De repente, a broca parou. Não era pedra. Era… mole.”

O silêncio que se seguiu ao cessar da máquina foi, segundo eles, mais assustador do que qualquer barulho. Um silêncio pesado, denso, como se a própria terra prendesse a respiração. Foi quando a luz das lanternas iluminou o que parecia ser um emaranhado de algo escuro, com uma textura que lembrava couro velho, mas que se movia lentamente.

“Parecia uma cobra gigante, mas sem escamas, sabe? E a cor… parecia que tinha engolido a noite”, relata Pedro, o capataz, um homem de poucas palavras e muita experiência, que agora gesticula freneticamente, tentando descrever o indescritível. “Tinha uns olhos, sim. Eram como duas brasas apagadas, que brilhavam pouco quando a luz batia de certo jeito. Mas não piscavam. Nunca piscavam.”

Os depoimentos dos mineiros são pontilhados por pausas, hesitações. Eles tentam encontrar palavras no vocabulário limitado do dia a dia para descrever algo que foge a toda lógica. Falam de um cheiro estranho, metálico e adocicado ao mesmo tempo, que invadiu o túnel. Falam de uma sensação de frio que não vinha do ambiente, mas parecia emanar da criatura.

“Minha mãe sempre falava das histórias da terra, dos seres que vivem escondidos. Eu ria. Achava que era conto pra assustar criança. Agora…”, Seu Zé balança a cabeça, o pó em seu rosto formando caminhos de incerteza. Ele se preocupa com a família em Belo Horizonte, com a conta de luz que vence no fim do mês. A vida lá em cima, com suas preocupações tão palpáveis, de repente parece frágil diante do que ele viu.

O grupo, composto por seis homens, todos pais de família, alguns avós, todos com a pele marcada pelo sol e pelo trabalho pesado, não ousam se aproximar. Recuam, a respiração ofegante, a adrenalina correndo pelas veias. A criatura, que eles estimam ter mais de dez metros de comprimento e uma espessura que exigiria as mãos de três homens para abraçar, não demonstrou agressividade aparente. Apenas observou, um vulto fantasmagórico na escuridão milenar.

“A gente saiu correndo. Subimos tão rápido que quase caímos uns em cima dos outros. Deixamos tudo pra trás. As ferramentas, o almoço, tudo”, confessa João, a voz embargada. “Temos medo de voltar. Medo do que pode acontecer se a gente incomodar de novo.”

A notícia, sussurrada entre os becos de paralelepípedos de Ouro Preto, entre os bares onde os mineiros buscam um alívio momentâneo, causa um misto de ceticismo e fascinação. Alguns dizem que é o calor, a exaustão, as histórias contadas por gerações que se manifestam em mentes cansadas. Outros, com um brilho nos olhos, lembram das lendas locais, de seres que guardam os tesouros da terra, que não gostam de ser perturbados.

O que se esconde, de fato, nas profundezas de Minas Gerais? Uma criatura desconhecida pela ciência? Uma manifestação de forças ancestrais? O que mais a terra, que nos provê o que comemos e os minerais que movem o mundo, esconde em seus segredos mais profundos?

Enquanto a notícia corre como um murmúrio pelo estado, os seis mineiros que viram o impensável vivem um dilema: voltar ao trabalho para garantir o pão de cada dia, arriscando reencontrar o que viram, ou abandonar a única vida que conhecem, assombrados pela imagem daquela vida que pulsa onde a luz jamais chega?

Será que há um mundo inteiro de seres e mistérios esperando o momento certo para serem descobertos, ou para permanecerem para sempre em seu silêncio abissal?


Por: Felipe Bastos Guimarães

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *