O mapa com pistas para um assassinato que ainda não aconteceu.

O mapa com pistas para um assassinato que ainda não aconteceu.

O Mapa com Pistas para um Assassinato que Ainda Não Aconteceu

As paredes descascadas do apartamento no Bom Retiro contam histórias. Histórias de Dona Elza, 78 anos, a senhora que amava orquídeas e bolos de fubá, e que agora jaz em silêncio, vítima de um golpe brutal. Mas a tragédia não se resumiu ao ato final. Ela se estendeu por um emaranhado de pistas, um mapa desenhado com sangue e desespero, que aponta para um crime que se anunciava. E o mais aterrador: o mapa sugere que pode haver mais vítimas.

“Ela falava que algo ia acontecer. Que a pessoa que estava perseguindo ela ia dar um jeito nela”, relata com a voz embargada Ana Lúcia, vizinha de Dona Elza há mais de vinte anos. Ana Lúcia, com o avental ainda sujo de farinha de um bolo que Dona Elza prometera dividir, senta-se no sofá puído, os olhos marejados. “Mas quem ia querer fazer mal para a Elza? Era uma santa. Só fazia o bem.”

A investigação, conduzida pela delegada Patrícia Fernandes, especialista em crimes contra idosos, encontra-se em um impasse. Não há testemunhas diretas do assassinato. O que restou, além da cena macabra, foi um caderno velho, guardado sob o colchão de Dona Elza. Nele, rabiscos, datas, nomes abreviados, e o que parecem ser rotas. Um mapa rudimentar, com anotações enigmáticas.

“É como se ela estivesse antecipando, tentando registrar quem e o quê estava lhe causando tanto temor”, explica a delegada Patrícia, folheando as páginas amareladas em sua mesa. “Temos datas de visitas não marcadas, horários estranhos. Um nome que se repete: ‘O Corvo’. E símbolos que ainda não deciframos completamente.”

O contexto social agrava a angústia. Dona Elza vivia em um bairro que, outrora vibrante, hoje luta contra a violência crescente e a fragilidade de seus moradores mais antigos. Muitos deles, como Elza, vivem sozinhos, com pouca rede de apoio, alvos fáceis. “Os jovens não ligam mais para os velhos. A gente vira invisível”, desabafa Seu Antônio, 65 anos, dono de uma pequena mercearia na esquina. “A Dona Elza era exceção. Sempre me dava um bom dia com um sorriso. Agora… ninguém mais sorri aqui.”

O “mapa” de Dona Elza, no entanto, parece ir além de um simples registro de ameaças. Um dos rabiscos, com uma cruz vermelha sobre um endereço em um bairro nobre da cidade, chama a atenção da equipe de investigação. Seria a casa do agressor? Ou um próximo alvo? A delegada Patrícia, com a testa franzida, aponta para um pequeno desenho de um pássaro preto. “O Corvo. Ela o desenhou aqui, perto desse endereço. E há outra série de datas, posteriores à sua morte, com marcações que parecem indicar outros locais.”

A sensação é que o tempo está correndo contra a polícia. O medo de que o mapa de Dona Elza seja um prenúncio de novas tragédias é palpável. A figura sombria de “O Corvo” paira sobre a investigação, um fantasma que a vítima tentou, desesperadamente, pintar com palavras e desenhos. A pergunta que ecoa nos corredores da delegacia e nas mentes dos moradores do Bom Retiro é a mesma: o que mais Dona Elza sabia? E para onde aponta o restante de suas pistas antes que a escuridão, representada por “O Corvo”, alcance outras vidas?


Por: Silas Thorne, o Cronista do Insólito

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