A Sombra na Mansão: Fantasmas Testemunham Crime e Silêncio

A Sombra na Mansão: Fantasmas Testemunham Crime e Silêncio

O ar rarefeito da Mansão Vesper, em Paraty, parece carregar o peso de décadas de segredos. Para o Detetive Elias Cardoso, um homem curtido pelas ruas sombrias do Rio de Janeiro e agora confrontado com o macabro assassinato do antiquário Arthur Vesper, a mansão é um palco onde a realidade se confunde com o sobrenatural. Arthur, encontrado morto em sua biblioteca, cercado por relíquias de valor inestimável e um silêncio aterrador, deixou para trás uma família em luto e uma série de enigmas.

“A gente vê de tudo na profissão, né? Mas isso aqui… é outra história”, confessa Elias, enquanto seus olhos percorrem os corredores imponentes, onde tapeçarias antigas parecem dançar com a luz fraca que filtra pelas vidraças empoeiradas. A polícia local, acostumada a roubos de gado e disputas de terra, está desconcertada. Elias, no entanto, sente um arrepio diferente, não apenas pelo frio da pedra antiga, mas pela sensação de estar sendo observado.

A viúva, Dona Elara Vesper, uma senhora esguia e de gestos contidos, mas com um olhar que transborda dor, mal consegue articular palavras. “Arthur era um homem… peculiar”, sussurra, apertando um lenço de seda. “Ele falava… das presenças. Diziam que a casa era viva.” Elias a ouve com atenção, a experiência lhe ensinando que, mesmo em meio ao desespero, as pessoas revelam verdades inesperadas.

O dilema de Elias reside na impossibilidade de usar seus “testemunhas” como provas. Maria, a governanta que cuida da mansão há trinta anos, é uma figura resignada, quase parte da mobília. Mas em conversas sussurradas no antigo jardim, onde rosas exóticas lutam contra o tempo, ela revela mais do que Elias esperava. “Na noite do crime, ouvi passos no andar de cima, mas não era ninguém da casa. E a porta da biblioteca, que o patrão sempre mantinha fechada… estava entreaberta. A luz acesa, como se ele esperasse alguém.” Maria hesita, seus olhos fixos em um ponto vazio. “E o frio… um frio de gelar os ossos, mesmo no verão.”

Dias se arrastam, e Elias vasculha documentos, avalia bens, tenta desvendar as complexas relações familiares e os negócios obscuros de Arthur Vesper. O promotor da cidade, um homem ambicioso e pragmático, já o pressiona por respostas concretas. “Detetive, precisamos de um suspeito, de um motivo. Essa história de fantasmas não vai para o tribunal.”

Mas Elias não consegue ignorar o comportamento estranho dos outros empregados, o receio que transparece em seus rostos quando o assunto é o “lado B” da mansão. Ou a forma como o cachorro da família, um pastor alemão leal, late insistentemente para cantos vazios e se encolhe em certas áreas da casa. São detalhes que a ciência forense não capta, mas que para Elias, um homem que já sentiu a presença de algo mais forte que ele em seus piores casos, não são meras coincidências.

Numa noite chuvosa, Elias está sozinho na biblioteca. Apenas o som da chuva na janela e o crepitar da lareira. Ele observa um retrato de um antigo proprietário da mansão, um homem com um olhar penetrante que parece acompanhá-lo. De repente, um livro cai de uma prateleira alta, abrindo-se numa página rabiscada. Um nome. E uma data. Uma data anterior à chegada de Arthur Vesper. Elias sente um arrepio percorrer sua espinha. Ele está perto. Perto de desvendar não apenas um assassinato, mas a verdade que habita as sombras da Mansão Vesper.

As manchas de sangue no tapete persa já foram lavadas, as digitais analisadas e arquivadas. Mas o eco dos passos que não deveriam estar ali, o sussurro de vozes que o vento insiste em carregar, e a sensação perturbadora de que as vítimas do crime não foram apenas os vivos, continuam a assombrar Elias. E agora, ele se pergunta: quem, ou o quê, realmente testemunhou a morte de Arthur Vesper? E mais importante, quem ou o quê, dentro da Mansão Vesper, tem algo a esconder além da morte física?


Por: Silas Thorne, o Cronista do Insólito

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