A Face Oculta no Reflexo: O Segredo Que Assombra a Família Silva
O cheiro de café recém-passado era o aroma da normalidade na casa dos Silva, um lar modesto no bairro da Vila Nova, em São Paulo. Maria Eduarda, 16 anos, a Duda para os íntimos, costumava se olhar no espelho do banheiro todas as manhãs antes de enfrentar a escola. Era um ritual simples: ajustar a franja rebelde, dar um último retoque no rímel. Mas há duas semanas, algo mudou. Um leve desconforto, um vulto imperceptível, que ela atribuía ao cansaço ou à iluminação.
“No começo, eu pensava que era coisa da minha cabeça”, conta Duda, com os olhos marejados, sentada na sala de estar, onde a luz do fim de tarde ainda insiste em entrar. “Um brilho estranho, uma sombra que parecia se mover rápido demais. Mas nunca conseguia focar.”
O pai, Seu Antônio, um homem de poucas palavras e mãos calejadas de anos de trabalho em uma fábrica, percebeu a mudança na filha. “Ela andava mais quieta, com os olhos sempre desconfiados. Eu perguntava, ela dizia que estava tudo bem. Mãe, o que não é tudo bem, a gente sente, né?”, diz Dona Lurdes, a matriarca da família, com a voz embargada.
A Vila Nova é um retrato fiel de tantas comunidades paulistanas: barracos coloridos dividindo espaço com casas geminadas, o som do funk ecoando das caixas de som e o burburinho constante de conversas na rua. Um lugar onde a vida pulsa, mas onde também se esconde o silêncio dos dramas.
A coisa se intensificou numa quarta-feira chuvosa. Duda, a caminho da escola, parou em frente ao espelho, como de costume. Desta vez, não era um vulto. Era um rosto. Um rosto pálido, com olhos fundos e um sorriso triste, que não era o dela. O reflexo a encarava de volta, a imagem distorcida parecendo sugar toda a luz do banheiro. Ela soltou um grito que atravessou o pequeno corredor e fez Seu Antônio e Dona Lurdes correrem para ver o que acontecia.
“Ela estava tremendo, com uma palidez assustadora”, relata Dona Lurdes, lembrando do pânico que tomou conta da casa. “Eu olhei no espelho, não vi nada. Mas ela jurava, chorando, que tinha visto alguém ali. Alguém que não era ela.”
Desde então, o espelho se tornou um objeto de terror. Duda evita o banheiro. A família até pensou em cobrir o espelho, mas a própria existência dele, ali, imponente, se tornou um lembrete constante daquela visão perturbadora. “É como se o espelho tivesse uma memória própria”, sussurra Duda, esfregando os braços como se sentisse um arrepio. “Como se ele mostrasse o que não quer ser visto.”
Professores da escola notaram o desempenho escolar de Duda cair drasticamente. Ela cochilava nas aulas, perdia o foco, e os amigos sentiram seu afastamento. “A Duda de antes era mais animada, sempre com uma piada. Agora, parece que ela carrega o peso do mundo”, comenta Brenda, colega de classe e amiga de Duda. “Ela chegou a me contar, bem baixinho, sobre o espelho. Eu não acreditei muito, sabe? Achei que era coisa de adolescente.”
Mas o que acontece quando o reflexo de um espelho revela algo que não deveria estar lá? Seria uma projeção do subconsciente de Duda, um manifestation de medos e ansiedades latentes em um período de transição para a vida adulta? Ou seria algo mais… insidioso? O mistério se adensa em cada canto daquela casa humilde, onde a busca por respostas se tornou um eco sombrio.
A família Silva procura ajuda, mas a ciência e a lógica parecem insuficientes para explicar o que se passa. A cada dia que amanhece, a pergunta paira no ar, sufocando a paz: o que mais aquele espelho esconde, e quem é, afinal, a pessoa que olha de volta para Duda, como uma sombra persistente de uma realidade ainda não desvendada?
Por: Silas Thorne, o Cronista do Insólito

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