O silêncio opressor após um som alto.

O silêncio opressor após um som alto.

**O GRITO SILENCIOSO DO MEDO: COMO UM SEGUNDO DE RUÍDO DESTRÓI O NOSSO MUNDO**

**Por um repórter investigativo brasileiro**

O som veio sem aviso. Um estrondo gutural que rasgou o véu de normalidade de uma tarde qualquer no bairro da Mooca, em São Paulo. Não foi um trovão, nem o barulho de uma obra. Foi algo mais, algo que fez o chão tremer e os corações pararem. E então, o silêncio. Um silêncio que pesou, denso e sufocante, como uma mortalha cobrindo os rostos assustados.

“Parecia o fim do mundo”, sussurra Dona Lúcia, 72 anos, com as mãos trêmulas repousando sobre um copo d’água. Seus olhos, antes vivazes, agora carregam a sombra do pavor. Ela mora no mesmo sobrado há cinquenta anos. Viu casamentos, nascimentos, perdas. Mas nunca, em toda sua vida, sentiu algo parecido. “O barulho… meu Deus, o barulho. E depois… nada. Um silêncio que me gritava, me dizia que algo ruim tinha acontecido.”

Na rua de paralelepípedos, o movimento de carros e pessoas, que até um minuto antes ditava o ritmo do bairro, foi abruptamente interrompido. Pessoas espreitando em janelas, carros parados em meio ao trânsito, rostos congelados em um misto de choque e desorientação. Crianças que brincavam na calçada agora abraçavam os pais, buscando refúgio em corpos que elas, instintivamente, sentiam que poderiam falhar.

João, 35 anos, que estava no balcão da padaria da esquina, descreve a cena com a voz embargada. “Todo mundo se jogou no chão. A gente nem sabia o que era. Só sabia que não podia ficar em pé. O vidro da vitrine tremeu, acho que até rachou. Quando o barulho parou, eu fiquei ali, deitado, ouvindo meu próprio coração bater. E aí veio o silêncio. Um silêncio esquisito, sabe? Não era paz, era… espera. Espera de algo pior.”

A investigação inicial da polícia aponta para um incidente em uma fábrica próxima, um desabamento parcial. Mas os detalhes ainda são nebulosos, envoltos em jargões técnicos e burocracia. Para os moradores, porém, a causa pouco importa. O que ficou foi a marca indelével do susto, a fragilidade da rotina exposta de forma brutal.

“Eu moro num prédio antigo”, conta Ana Paula, 28 anos, enquanto tenta acalmar o filho pequeno, que ainda chora em seus braços. “Sempre ouvi falar de risco, mas a gente ignora, né? A gente vive a vida. Agora… agora eu olho para as paredes da minha casa e vejo… fragilidade. Aquele barulho me fez ver que tudo que a gente constrói, toda a nossa segurança, pode vir abaixo num segundo.”

O silêncio após o som alto não é apenas a ausência de ruído. É a ausência de normalidade. É o eco do medo reverberando nas mentes e nos corpos. É a percepção nua e crua de que a vida, em sua aparente solidez, é tão delicada quanto um sopro. As conversas nas calçadas, antes animadas, agora são sussurradas, permeadas por olhares receosos e pela constante checagem de celulares em busca de novas informações.

Enquanto os bombeiros trabalham incessantemente e as autoridades tentam restabelecer a ordem, um sentimento paira no ar: a vulnerabilidade. A Mooca, como tantas outras regiões urbanas, viveu o seu momento de ruptura. Um momento que quebrou o som, mas amplificou o silêncio.

E agora, o que resta? O medo. A incerteza. A pergunta que ecoa nos corações apreensivos dos moradores da Mooca, e que talvez ressoe em cada um de nós:

Será que o próximo barulho será o alarme de que o pior ainda está por vir?


Por: Felipe Bastos Guimarães

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